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Cartum (Agência Fides) - “É sempre o mesmo cenário: esquadrões armados chegam às aldeias em camelos, expulsam os habitantes, seqüestram ou matam os homens, violentam as mulheres e as jovens”. É o testemunho enviado à Agência Fides por uma religiosa da Congregação de São Joana Antida Thouret (Irmãs da Caridade), que atua em Darfur, região do Sudão ocidental que desde 2003 é castigada pelas violências de bandos armados que terrorizam a população civil.
“Em meio ao desespero - diz a Irmã - existe tanta solidariedade entre as pessoas, que trocam entre si alimentos e água. Nós tentamos oferecer-lhes açúcar, leite, farinha e sabão. Admiramos também o trabalho das organizações internacionais, que atuam em meio a tantas dificuldades. De fato, trabalha-se em condições muito difíceis nos acampamentos para refugiados, que podem acolher até 40 mil pessoas”.
As Irmãs da Caridade não trabalham apenas nos centros, mas se movimentam no território, tentando chegar aos mais distantes. “Por causa da violência, porém, nossas possibilidades de locomoção são limitadas, mas garantimos nosso serviço em igrejas e em alguns dos bairros das principais cidades da região” - explica a religiosa.
Entre os projetos das Irmãs da Caridade está o centro “Nemesia”, (nome de uma Irmã da Caridade beatificada em 2004), em Nyala, para as jovens da região. “Em acordo com o Bispo, compramos uma casa. Fizemos algumas reformas e encontramos alguns móveis” - continua a religiosa. “Neste meio-tempo, contatamos cerca de 20 responsáveis de tribos, aos quais explicamos nosso projeto: trabalhar para a promoção das jovens que não puderam estudar, organizando cursos de alfabetização e de economia doméstica. A idéia foi recebida com alegria e cada responsável prometeu contatar pelo menos 10 jovens”.
As inscrições tiveram sucesso: 120 jovens de idade entre 16 e 19 anos, de 14 tribos diversas. Desde os primeiros dias de aula, viam-se alegria e timidez nos rostos das jovens” - recorda a religiosa. “Seu desejo e sua vontade de estudar são admiráveis. Os curso de estudo prevêem o ensino de árabe e inglês, além de matemática e trabalhos manuais: culinária e costura. Há também lições de pronto-socorro, educação cívica, para que se conscientizem dos direitos da mulher e de seu papel na família e na sociedade”.
Graças ao Centro “Nemesia”, as jovens escaparam do horror e das violências. “Enquanto a guerra era combatida - conta a religiosa - as jovens viviam em paz e fraternidade. Sua vida comum era um grito contra a guerra e a violência, sua experiência era testemunho e sinal da paz tão auspiciada”.
Após um ano de estudo, foram emitidos diplomas de pronto-socorro a 60 jovens, 35 das quais quiseram continuar a estudar árabe e inglês. Com a reabertura das escolas, 18 jovens puderam retornar aos institutos escolares oficiais e retomar seus estudos normalmente.
Um segundo grupo é composto de cerca de 60 jovens de idade entre 10 e 15 anos, com um programa de estudo de 2 anos.
As Irmãs da Caridade estão presentes no Sudão desde 1984. Atualmente, as 15 religiosas da Ordem estão distribuídas em 4 comunidades: 2 na capital, Cartum, e 2 em Darfur, em Nyala e El Fasher. (L.M.) (Agência Fides 26/10/2006)
