VATICANO - A catequese do Papa Bento XVI dedicada à sucessão apostólica: “A sucessão na função episcopal apresenta-se como continuidade do ministério apostólico, garantia da perseverança na Tradição apostólica, palavra e vida, que nos foram confiadas pelo Senhor”

Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Depois de meditar nas precedentes audiências gerais sobre o significado da Tradição na Igreja - “que é a presença permanente da palavra e da vida de Jesus no seu povo”, - o Santo Padre Bento XVI dedicou a catequese de quarta-feira, 10 de maio, ao tema da sucessão apostólica. “A palavra, para estar presente, tem necessidade de uma pessoa, de um testemunho - explicou o Papa -. Deste modo, nasce esta reciprocidade: de um lado, a palavra tem necessidade da pessoa, mas, de outro, a pessoa está ligada à palavra que lhe foi confiada e que ela não inventou. Esta reciprocidade entre conteúdo - palavra de Deus, vida do Senhor - e pessoa que o transmite é uma característica da estrutura da Igreja, e hoje queremos meditar sobre este aspecto pessoal da Igreja”.
O próprio Senhor convocou os Doze, nos quais estava representado o futuro Povo de Deus. Eles, primeiramente, integram seu número com a eleição de Matias no lugar de Judas, e “associam progressivamente outros às funções que lhes foram confiadas para que continuassem seu ministério”… “Assim como no início da condição do apóstolo encontra-se um chamado e um envio do Ressuscitado - disse o Papa Bento XVI -, do mesmo modo o sucessivo chamado e convite a outro acontecerá, com a força do Espírito, por obra de quem já foi constituído no ministério apostólico. Este é o caminho pelo qual continuará este ministério que, depois, começando pela segunda geração, chamar-se-á ministério episcopal”. Explicando o significado da palavra “Bispo”, o Papa disse que esta indica, na sua etimologia greca, “alguém que tem uma visão do alto, que olha com o coração”. Esta função do Bispo vai evoluir depois com o tempo, segundo “um desenvolvimento guiado pelo Espírito de Deus, que auxilia a Igreja no discernimento das formas autênticas da sucessão apostólica, definidas cada vez melhor entre uma pluralidade de experiências e de formas carismáticas e ministeriais, presentes na comunidade das origens”.
O elo entre o Colégio dos Bispos e a comunidade originária dos Apóstolos é compreendido primeiramente na linha da continuidade histórica, afirmou o Santo Padre, destacando que “na continuidade da sucessão, encontra-se a garantia de perseverança na comunidade eclesial, no Colégio apostólico, reunido a seu redor por Cristo. Mas esta continuidade, que vemos primeiramente na continuidade histórica dos ministros, deve-se entender também em sentido espiritual, pois a sucessão apostólica no ministério é considerada como lugar privilegiado da ação e da transmissão do Espírito Santo”. Sobre este argumento, o Papa citou um texto de Irineu de Lyon, que fala da Igreja “fundada e constituída em Roma pelos dois gloriosos apóstolos Pedro e Paulo” e da tradição da fé, “que chega até nós através dos apóstolos mediante as sucessões dos Bispos”. “A sucessão episcopal, verificada em virtude da comunhão com a Igreja de Roma, é, portanto, o critério de permanência de cada uma das Igrejas na Tradição da fé comum apostólica, que através deste canal, pôde chegar até nós desde as origens".
Segundo os testemunhos da Igreja antiga, explicou ainda o Papa Bento XVI, “a apostolicidade da comunhão eclesial consiste na fidelidade ao ensinamento e à prática dos apóstolos, através dos quais se garante a união histórica e espiritual da Igreja com Cristo... Os que representam os apóstolos na relação entre o Senhor Jesus e a Igreja das origens, representa analogamente a sucessão ministerial na relação entre a Igreja das origens e a Igreja atual. Não é uma mera concatenação material; mas é o instrumento histórico do qual se serve o Espírito para fazer presente o Senhor Jesus, cabeça de seu povo, através daqueles que são ordenados para o ministério por meio da imposição das mãos e da oração dos bispos”. (S.L.) (Agência Fides 11/5/2006)