ÁFRICA/LIBÉRIA - “O desarmamento das milícias liberianas prossegue. Mas para uma verdadeira paz, é preciso enfrentar as redes de tráficos criminais que alimentam as guerras africanas”, afirma Pe. Armanino, missionário na Libéria

Monróvia (Agência Fides)- “O desarmamento das facções liberianas prossegue, e este é um fato certamente positivo, mas não se devem criar falsas ilusões: é preciso ir além e enfrentar as questões políticas e econômicas que estão na base da longa crise liberiana.” Esta é a opinião relatada à Agência Fides por Pe. Mauro Armanino, provincial SMA, sobre a situação da Libéria, onde há algum tempo teve início o desarmamento de diversos grupos armados que combateram nos últimos anos. “As operações de recuperação das armas prosseguem regularmente em Moróvia, capital da Libéria, enquanto deveriam iniciar em Buchanan, a segunda cidade do país”, afirma Pe. Armanino. Em Buchanan, as milícias do MODEL (Movimento Democrático da Libéria), que controlam a cidade, iniciaram a reagrupar os próprios combatentes em alguns centros de recolhimento, primeiro passo para seu desarmamento.
Em 2003, o desarmamento das milícias liberianas foi anunciado e várias vezes adiado, e este ano, finalmente, as tropas das Nações Unidas conseguiram dar início às operações de recolhimento das armas.
“Infelizmente, não se deve iludir porque é realmente difícil realizar um processo de desarmamento completo. Muitas armas estarão certamente escondidas, para uma eventual retomada dos combates”, afirma Pe. Armanino. “É preciso depois analisar o problema da Libéria no contexto regional. Libéria, Costa do Marfim, Serra Leoa, Guiné são crises relacionadas uma com as outras, e alimentadas pelas mesmas redes de tráficos e cumplicidade internacionais. Existem grandes organizações criminais que traficam as armas, drogas, madeira e diamantes e que alimentam os conflitos africanos para perpetuar seus tráficos”, afirma Pe. Armanino. “É chegada a hora de a comunidade internacional enfrentar na raiz as causas das guerras africanas.”
O programa de desarmamento das várias milícias é um dos pontos mais importantes dos acordos de paz assinados em agosto de 2003 para acabar com anos de guerra civil, entre as forças do ex-presidente Charles Taylor, e de dois grupos de guerrilha: LURD (Liberianos Unidos pela Reconciliação e a Democracia) e MODEL (Movimento Democrático da Libéria). Taylor foi para o exílio na Nigéria, mas é procurado pela Interpol e pelo Tribunal Internacional para Serra Leoa, que o acusa de estar implicado nas violações dos direitos humanos no conflito do país.
Enquanto isso, as instituições tentam recuperar com dificuldade os serviços sociais. “Ontem, 19 de abril, os estudantes manifestaram pelas ruas de Monróvia para pedir que seja garantido o direito ao estudo”, afirma Pe. Armanino. “Os professores não recebem salário e por isso não dão aulas. Os estudantes bloquearam por algumas horas o centro da cidade, mas não houve incidentes, como aconteceu em uma precedente manifestação, em que a polícia interveio com gás lacrimogêneo”. (L.M.) (Agência Fides 20/4/2004)