VATICANO - MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES 2007: Todas as Igrejas para todo o mundo

Sábado, 2 Junho 2007

Caros irmãos e irmãs,
por ocasião do próximo Dia Mundial das Missões, gostaria de convidar todo o Povo de Deus - Pastores, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos - a uma comum reflexão sobre a urgência e sobre a importância que reveste, também neste nosso tempo, a acção missionária da Igreja. Com efeito, não deixam de ressoar, como universal chamado e aflito apelo, as palavras com as quais Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, antes de ascender ao Céu confiou aos Apóstolos o mandato missionário: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei”. E acrescentou: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,19-20). Na exigente obra da evangelização nos ampara e nos acompanha a certeza de que Ele, o Senhor da colheita, está conosco e guia sem descanso o seu povo. É Cristo a fonte inesgotável da missão da Igreja. Além disso, este ano um ulterior motivo nos impulsiona a um renovado compromisso missionário: de facto, celebram-se os 50 anos da Encíclica do Servo de Deus Pio XII Fidei donum, com a qual foi promovida e encorajada a cooperação entre as Igrejas para a missão ad gentes.
“Todas as Igrejas para todo o mundo”: este é o tema escolhido para o próximo Dia Mundial das Missões. Este convida as Igrejas locais de cada Continente a uma compartilhada consciência acerca da urgente necessidade de relançar a acção missionária diante dos múltiplos e graves desafios do nosso tempo. Certamente mudaram as condições em que a humanidade vive, e nestas décadas um grande esforço foi realizado para a difusão do Evangelho, especialmente a partir do Concílio Vaticano II. Todavia, permanece ainda muito por fazer para responder ao apelo missionário que o Senhor não se cansa de dirigir a todo baptizado. Em primeiro lugar, ele continua a chamar as Igrejas assim ditas de antiga tradição, que no passado forneceram às missões, além de meios materiais, também um número consistente de sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, dando vida a uma eficaz cooperação entre comunidades cristãs. Desta cooperação nasceram abundantes frutos apostólicos, seja para as jovens Igrejas em terra de missão, seja para as realidades eclesiais das quais provinham os missionários. Diante do avanço da cultura secularizada, que às vezes parece penetrar sempre mais nas sociedades ocidentais, considerando, além disso, a crise da família, a diminuição das vocações e o progressivo envelhecimento do clero, essas Igrejas correm o risco de fechar-se em si mesmas, de olhar com reduzida esperança para o futuro e de refrear seu esforço missionário. Mas é justamente este o momento de abrir-se com confiança à Providência de Deus, que nunca abandona o seu povo e que, com a potência do Espírito Santo, o guia em direção à realização do seu eterno desígnio de salvação.
Para dedicar-se generosamente à missio ad gentes, o Bom Pastor convida também as Igrejas de recente evangelização. Mesmo encontrando não poucas dificuldades e obstáculos em seu desenvolvimento, essas comunidades estão em crescimento constante. Algumas abundam felizmente de sacerdotes e de pessoas consagradas, não poucos dos quais, mesmo sendo tantas as necessidades in loco, todavia são enviados a desempenhar seu ministério pastoral e seu serviço apostólico em outro lugares, também nas terras de antiga evangelização. Deste modo, assiste-se a um providencial “intercâmbio de dons”, que redunda em benefício de todo o Corpo místico de Cristo. Auspicio vivamente que a cooperação missionária se intensifique, valorizando as potencialidades e os carismas de cada um. Além disso, faço votos para que o Dia Mundial das Missões contribua a tornar sempre mais conscientes todas as comunidades cristãs e todo baptizado de que o chamado de Cristo a propagar o seu Reino até os extremos ângulos do planeta é universal. “A Igreja é missionária por natureza - escreve João Paulo II na Encíclica Redemptoris missio -, porque o mandato de Cristo não é algo de contingente e exterior, mas atinge o próprio coração da Igreja. Segue-se daí que a Igreja toda e cada uma das Igrejas é enviada aos não cristãos. Mesmo as Igrejas mais jovens, precisamente « para este zelo missionário florescer nos membros da sua pátria », devem « participar o quanto antes e de facto na missão universal da Igreja, enviando também elas, por todo o mundo, missionários a pregar o Evangelho, mesmo se sofrem escassez de clero» (n. 62).
Há cinqüenta anos do histórico apelo do meu predecessor Pio XII, com a Encíclica Fidei donum para uma cooperação entre as Igrejas a serviço da missão, gostaria de reiterar que o anúncio do Evangelho continua a revestir os caracteres da atualidade e da urgência. Na citada Encíclica Redemptoris missio, o Papa João Paulo II, por sua vez, reconhecia que “a missão da Igreja é mais vasta que a « comunhão entre as Igrejas »: esta deve ser orientada não só para auxiliar a reevangelização, mas também e sobretudo na direcção da acção missionária específica” (n. 64). O compromisso missionário permanece, portanto, como mais vezes reiterado, o primeiro serviço que a Igreja deve à humanidade de hoje, para orientar e evangelizar as transformações culturais, sociais e éticas; para oferecer a salvação de Cristo ao homem do nosso tempo, em tantas partes do mundo humilhado e oprimido por causa de pobrezas endêmicas, da violência e da negação sistemática dos direitos humanos.
A Igreja não pode subtrair-se a esta missão universal; a missão reveste para a Igreja uma força obrigatória. Tendo Cristo confiado em primeiro lugar a Pedro e aos Apóstolos o mandato missionário, este hoje compete primeiramente ao Sucessor de Pedro, que a Providência divina escolheu como fundamento visível da unidade da Igreja, e aos Bispos diretamente responsáveis pela evangelização, seja como membros do Colégio episcopal, seja como Pastores das Igrejas particulares (cfr Redemptoris missio, 63). Por conseguinte, dirijo-me aos Pastores de todas as Igrejas postos pelo Senhor à frente do único seu rebanho, para que compartilhem o estímulo do anúncio e da difusão do Evangelho. Foi justamente esta preocupação a impulsionar, cinqüenta anos atrás, o Servo de Deus Pio XII a tornar a cooperação missionária mais respondente às exigências dos tempos. Especialmente diante das perspectivas da evangelização, ele pediu às comunidades de antiga evangelização que enviassem sacerdotes em auxílio das Igrejas de recente fundação. Deu vida assim a um novo “sujeito missionário” que, desde as primeiras palavras da Encíclica, extraiu precisamente o nome de “Fidei donum”. Escreveu a propósito: “Considerando, de um lado, a imensa multidão de nossos filhos que, principalmente nas regiões possuidoras há muito do nome cristão, participam dos benefícios da fé divina; por outro, porém, reconhecendo ser incomparavelmente maior o número dos que, até hoje, aguardam o mensageiro da salvação, desejamos ardentemente, veneráveis irmãos, exortar-vos sempre mais a sustentar com todo empenho a causa santíssima que tem por fim a propagação, por todo o orbe da terra, da Igreja de Deus”. E acrescentou: “Façam nossas exortações que o espírito de apostolado missionário surja e floresça com maior ardor nas almas dos sacerdote e, por seu ministério, infunda-se em todos os fiéis!” (AAS XLIX 1957, 226).
Agradeçamos ao Senhor pelos frutos obtidos desta cooperação missionária na África e em outras regiões da terra. Inúmeros sacerdotes, após deixar as comunidades de origem, depositaram suas energias apostólicas ao serviço de comunidades que, às vezes, acabaram de nascer, em zonas de pobreza e em desenvolvimento. Entre eles estão não poucos mártires que, ao testemunho da palavra e à dedicação apostólica, uniram o sacrifício da vida. Nem podemos esquecer os muitos religiosos, religiosas e leigos voluntários que, junto aos presbíteros, se prodigalizaram para difundir o Evangelho até os extremos confins do mundo. Que o Dia Mundial das Missões seja ocasião para recordar na oração esses nossos irmãos e irmãs na fé e as pessoas que continuam a prodigalizar-se no vasto campo missionário. Peçamos a Deus que seu exemplo suscite em todos os lugares novas vocações e uma renovada consciência missionária no povo cristão. Com efeito, toda comunidade cristã nasce missionária, e é justamente sobre a base da coragem que se mede o amor dos fiéis por seu Senhor. Poderemos assim dizer que, para cada fiel, não se trata simplesmente de colaborar para a actividade de evangelização, mas de sentir-se eles mesmos protagonistas e co-responsáveis da missão da Igreja. Esta co-responsabilidade comporta que cresça a comunhão entre as comunidades e se incremente a ajuda recíproca no que concerne seja aos membros (sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos voluntários), seja à utilização dos meios hoje necessários para evangelizar.
Caros irmãos e irmãs, o mandato missionário confiado por Cristo aos Apóstolos nos envolve realmente a todos. Que o Dia Mundial das Missões seja, portanto, ocasião propícia para se conscientizar mais profundamente e para elaborar juntos apropriados itinerários espirituais e formativos que favoreçam a cooperação entre as Igrejas e a preparação de novos missionários para a difusão do Evangelho neste nosso tempo. Todavia, não se deve esquecer que a primeira e prioritária contribuição que somos chamados a oferecer à ação missionária da Igreja é a oração. “A colheita é grande, mas os operários são poucos - diz o Senhor -. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para sua colheita” (Lc 10,2). “Escrevia cinqüenta anos atrás o Papa Pio XII, de venerada memória: “Elevai sempre mais a Deus, veneráveis irmãos, instantes preces. Refleti atentamente sobre tantos povos, quase inumeráveis, mergulhados em angústias espirituais, por ainda vaguearem longe do caminho da verdade, ou por lhes faltarem os meios de perseverar” (AAS, cit., pag. 240). E exortava a multiplicar as Colheitas celebradas pelas Missões, observando que deste modo concordaria “assim com os desejos do Senhor, que ama sua Igreja e a quer viva e dilatada por todo o mundo” (ibid., pag. 239).
Caros irmãos e irmãs, renovo também eu este convite mais atual do que nunca. Que se estenda em cada comunidade a coral invocação ao “Pai nosso que estás nos céus”, para que venha o seu reino sobre a terra. Faço apelo particularmente às crianças e aos jovens, sempre prontos a generosos ímpetos missionários. Dirijo-me aos doentes e aos sofredores, recordando o valor de sua misteriosa e indispensável colaboração à obra da salvação. Peço às pessoas consagradas, e especialmente aos mosteiros de clausura, que intensifiquem sua oração pelas missões. Graças ao esforço de cada fiel, se alargue em toda a Igreja a rede espiritual de oração em suporte da evangelização. Que Nossa Senhora, que acompanhou com materna solicitude o caminho da Igreja nascente, guie os nossos passos também nesta nossa época e obtenha para nós um novo Pentecostes de amor. Em particular, que nos torne a todos conscientes de ser missionários, ou seja, enviados pelo Senhor para ser suas testemunhas em cada momento da nossa existência. Aos sacerdotes “Fidei donum”, aos religiosos, às religiosas, aos leigos voluntários comprometidos nas fronteiras da evangelização, assim como às pessoas que de várias maneiras se dedicam ao anúncio do Evangelho, garanto uma recordação cotidiana na minha oração, enquanto ofereço com afecto a todos a Bênção Apostólica.
Do Vaticano, 27 de Maio de 2007, Solenidade de Pentecostes.
BENEDICTUS PP. XVI
(Agência Fides 2/6/2007)


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