Kinshasa (Agência Fides) - "Os vários grupos armados foram criados em base étnica e com o objetivo de defender os interesses econômicos e sociais de um determinado grupo étnico. Mas são muitas vezes instrumentalizados por políticos e militares, a nível local e nacional, e tornaram-se meros instrumentos de enriquecimento pessoal de seus "oficiais" militares e de seus patrocinadores políticos", afirma uma nota enviada à Agência Fides pela Rede Paz para o Congo sobre os diferentes grupos armados que semeiam morte e destruição no Kivu Norte no leste da República Democrática do Congo. O drama da população da área foi recordado pelo Papa Francisco após o Angelus na Solenidade da Assunção da Virgem Maria (veja Fides 18/8/2016). "O meu pensamento" - disse o Pontífice - vai aos habitantes do Kivu Norte, na República Democrática do Congo, recentemente afetada por novos massacres que há tempo são perpetrados no longo silêncio vergonhoso, sem atrair sequer a nossa atenção. Estas vítimas fazem parte, infelizmente, muitas pessoas inocentes que não têm influência na opinião pública mundial".
A nota ressalta que "algumas autoridades tradicionais locais de Rutshuru e membros da Baraza la Wazee, estrutura que inclui todas as comunidades étnicas do Kivu Norte, confirmam que as tensões entre os grupos étnicos locais são frequentemente alimentadas por certos políticos em busca de posicionamento na véspera das eleições".
Deo Tusi Bikanaba, vice-presidente da Baraza la Wazee, disse que a maioria dos conflitos que surgiram na província do Kivu Norte foram quase sempre criados e alimentados por alguns políticos desonestos e sedentos de poder, e pediu à população para "não ouvir esses políticos maus" e "dissociar-se dos grupos armados que só matam e cometem injustiças".
Segundo a Rede Paz para o Congo é necessário:
* Aceitar o pluralismo étnico como uma dimensão essencial da sociedade. Nesta lógica, é importante promover a convivência harmoniosa entre as diferentes etnias, a convicção de formar um único povo. A constituição e os textos legislativos indicam as condições de pertença a este único povo. Muitas vezes na origem de tensões sociais, a distinção entre comunidades autóctones e comunidades não-nativas seria de tal modo relativizada e isso ajudaria a reduzir eventuais conflitos.
* Promover projetos de desenvolvimento comunitário nos âmbitos agrícola, da saúde e escolar. Isto favoreceria a colaboração entre as várias comunidades, ajudando-as a superar eventuais conflitos.
* Atualizar continuamente o database dos refugiados e deslocados, assegurar a sua assistência humanitária e monitorar os deslocamentos. Isto evitaria que fossem alvo de recrutamento de grupos armados locais ou estrangeiros e de redes criminosas.
* Assegurar o bom funcionamento das forças de segurança, melhorando as redes de comando e fornecendo-lhes todos os meios necessários para garantir a segurança das pessoas e do território. “Isto limitaria o fenômeno do recurso a grupos armados com fins de autodefesa e facilitaria as operações militares empreendidas para neutralizá-los” conclui a nota. (L.M.) (Agência Fides 19/8/2016)