EUROPA/ITÁLIA - “A CANONIZAÇÃO DE ARNALDO JANSSEN NOS ENSINA A ENCONTRAR NOVAS VIAS PARA O ANÚNCIO DO EVANGELHO MESMO EM TEMPOS DE CRISE” – ENTREVISTA DA FIDES AO SUPERIOR GERAL DOS VERBITAS, PE. ANTÔNIO PERNIA

Terça, 30 Setembro 2003

Roma (Agência Fides) – Domingo 5 de Outubro, o Papa canonizará Arnaldo Janssen, fundador de três institutos religiosos missionários (Sociedade do Verbo Divino, Servos Missionários do Espírito Santo e Servas do Espírito Santo de Adoração Perpétua) que contam juntos com mais de 10.000 membros, e Giuseppe Freinademetz, primeiro missionário Verbita morto na China. Para esta circunstância a Agência Fides recebeu algumas perguntas de Pe. Antônio Pernia, Superior Geral dos Verbitas (SVD).

Quando Arnaldo Janssen, na segunda metade de 1800, pediu permissão para abrir um seminário para as missões no exterior, o Arcebispo de Colônia lhe respondeu: “Nós vivemos em um tempo em que tudo parece tremer e afundar”. Em seguida a abertura á missão, observou-se o crescimento e a renovação da Igreja alemã. Também hoje, no início do terceiro milênio, nuvens ameaçadoras parecem tornar tudo precário e frearem novas iniciativas. Que mensagem para a Igreja missionária e para o mundo de hoje vem desta canonização?
A canonização de Pe. Arnaldo destaca a profunda confiança que ele tinha em Deus. Esta confiança se entrevê na resposta que Arnaldo deu à pergunta do Arcebispo de Colônia: “Sim, justamente por isso deve surgir algo de novo!” Para Arnaldo, um tempo de crise significa não apenas o fim das coisas mas também o novo início de outras coisas. Uma crise pode transformar-se em um tempo de graça. E assim Arnaldo fundou uma nova congregação missionária durante o difícil período da “Kulturkampi” (luta pela cultura) que comportava uma série de leis anti-católicas na Alemanha.
As “nuvens ameaçadoras” do terceiro milênio podem ser consideradas como um chamado a discernir novas coisas que devem surgir no lugar daquelas que estão afundando. por exemplo, no passado, a Europa era apenas o continente que mandava missionários aos outros continentes. Talvez, hoje, a necessidade é de individuar e responder às situações missionárias na própria Europa. a missão se encontra não mais apenas fora da europa, mas em toda a parte, também na Europa. A canonização de três missionários – Arnaldo Janssen, Giuseppe Freinademetz e Daniel Comboni – confirma a atualidade das missões universais da Igreja. A missão faz parte da identidade da Igreja. Como dizia o Concílio Vaticano II, a Igreja é missionária por natureza.

Janssen foi um precursor e um inovador da missão sob diversos aspectos: da difusão da Palavra de Deus á necessidade de formar os sacerdotes, da colaboração dos leigos a obra missionária à necessidade de conhecer outras religiões e outras culturas, ao uso dos meios de comunicação e o compromisso social. Quais destes aspectos devem ser mais desenvolvidos e pensa ser prioritários para a missão do terceiro milênio?
É uma escolha difícil porque quase todos estes aspectos devem ser preservados e desenvolvidos. Mas se tiver de escolher, darei prioridade ao diálogo inter-religiosos e inter-cultural, à colaboração com os leigos e ao uso dos meios de comunicação social. Em primeiro lugar, hoje é preciso passar do velho modelo de missão a um modelo mais novo, isto é, da missão vista como conquista à missão entendida como diálogo. E não existirá um verdadeiro diálogo sem conhecer e respeitar as religiões e as culturas das pessoas. Em segundo lugar, se no passado a Igreja se interrogava sobre o papel ou o lugar dos leigos no seu interior, a Igreja do futuro será uma Igreja dos leigos e a questão será o papel ou lugar dos religiosos, dos missionários e dos sacerdotes na mesma. A colaboração “com “ os leigos ( e não só a colaboração “dos” leigos) será crucial em uma Igreja intendida sobretudo como comunhão. A terceira prioridade, como já disse o santo padre, é a mídia, que constituem hoje o novo Areópago onde se deve proclamar o Evangelho. O uso dos meios de comunicação é importante para uma Igreja cuja a identidade é a comunhão e cuja a missão é o diálogo.

Os Verbitas hoje são mais de 6.000 espalhados em 60 países. É possível traçar um mapa dos campos em que estão empenhados? Que princípios inspira a sua obra de evangelização?
Segundo as nossas Constituições, atuamos em primeiro lugar e preferivelmente onde o Evangelho não foi ainda pregado ou o é somente em forma precária, e onde a Igreja local não pode considerar-se auto suficiente: somos fundamentalmente missionários “ad gentes”. Ao longo da nossa história, a compreensão da nossa missão sofreu várias interpretações. O nosso último Capítulo Geral em 2000 falava da nossa missão como de um diálogo profético com quatro grupos de pessoas: aquelas que não pertencem a nenhuma comunidade de fé e estão à procura desta; aquelas que são pobres, marginalizadas e oprimidas; aquelas que pertencem a culturas diferentes e por fim, aquelas que seguem tradições religiosas diferentes e ideológicas seculares. O Capítulo individuou para n´so quatro situações de “fronteira” na qual somos chamados a estar presentes: a situação de evangelização inicial e re. evangelização, os pobres e os marginalizados, o testemunho inter-cultural e o encontro inter-religioso.

Diferentemente de muitos outros institutos religiosos, os Verbitas não advertem a crise de vocações, e a maior parte dos novos membros são provenientes de um continente como a Ásia, onde os cristãos são uma ínfima minoria. Como se pode explicar este fenômeno?
Em primeiro lugar, não podemos esquecer do mistério da graça de deus. Além disso, há o fator sociológico: geralmente em uma sociedade, a minoria se sente desafiada a exprimir mais claramente a sua identidade, E assim ocorre para o Cristianismo na Ásia. A ínfima minoria dos cristãos procura não perder-se na maioria, com alguns deles que seguem a via mais radical, isto é a vida religiosa ou sacerdotal. Além disse, ousarei dizer que talvez estamos operando nos postos justos, isto é, entre grupos de jovens nos quais o Senhor está ainda semeando a vocação. Ou talvez estamos fazendo um trabalho que responde às necessidades do povo local, portanto um trabalho que atrai ainda os jovens na Ásia. Não deveremos porém excluir também um outro fato sociológico: a vida religiosa/sacerdotal as vezes parece um caminho cômodo para subir na escala econômica-social no País.

Janssen havia uma particular devoção pelo Rosário, e a sua canonização ocorre justamente no Ano do Rosário e no início do mês dedicado á oração do Rosário. Qual é a atualidade desta oração em chave missionária e quais são os elementos fundamentais da espiritualidade de Janssen?
Como oração mariana, o Rosário continua a ser atual também hoje. Nos une à Maria que foi, por assim dizer, a “primeira missionária”. Maria é a pessoa que acolheu o Verbo Divino em seu sei, o nutriu não apenas fisicamente mas também espiritualmente, e o fez nascer para toda a humanidade. Maria foi a portadora de Cristo, e todo verdadeiro missionário deve ser também um portador de Cristo aos outros. Além disso, o Rosário nos dá a oportunidade de refletir sobre o mistério de Cristo, que é o centro do Evangelho que nós anunciamos como missionários.
Arnaldo Janssen, filho do seu tempo, tinha muitas devoções. Além da devoção pelo Rosário, havia também uma devoção ao Sagrado Coração de Jesus, ao Verbo Divino, ao Espírito Santo e à Eucaristia. Mas a sua espiritualidade era centrada em uma devoção à Trindade ou ao deus Uno e trino. De fato, nos deixou uma oração que depois se tornou uma oração que identifica as congregações que fundou. “Vivat Deus Unus et Trinus in cordibus nostris et in cordibus hominum” que significa “Viva Deus Uno e trino, em nossos corações e nos corações de todos”.
A biografia dos novos santos e outras notícias relacionadas aos institutos religiosos fundados por Arnaldo Janssen estão disponíveis em nosso site www.fides.org
(S.L) (Agência Fides 01/10/2003 – linhas: 101; palavras: 1285)


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