ÁSIA/PAQUISTÃO – Um relatório sobre a violência anticristã de Gojra acusa o partido do novo premiê Sharif

Sábado, 1 Junho 2013

Islamabad (Agência Fides) – A relação entre as minorias cristãs do Paquistão (2% da população) e o novo premiê Nawaz Sharif, líder do partido “Pakistan Muslim League-Nawaz” (PML-N), começa com problemas. Um novo e detalhado Relatório sobre o grave ataque anticristão de Gojra, ocorrido na província do Punjab em 2009, indica claramente como responsáveis alguns membros da cúpula da “Pakistan Muslim League-N, na época recém-eleita ao poder da província do Punjab. Em 31 de julho de 2009, uma multidão de extremistas atacou o bairro cristão de Gojra, devastando e incendiando 100 casas de cristãos. 8 pessoas foram queimadas vivas, incluindo duas crianças, como uma “punição de massa”, depois que três fiéis locais foram acusados de presumível blasfêmia. O Relatório, enviado à Agência Fides, foi encomendado pelo governo do Punjab ao juiz Iqbal Hameedur Rehman para estudar a prevenção de incidentes como o de Gojra e divulgado publicamente quatro anos após o incidente. O juiz entrevistou 580 testemunhas, como expoentes políticos e funcionários da inteligência. O inquérito aponta como cúmplices do massacre diversos membros da Pakistan Muslim League-N e, como indicação para prevenir futuras violências, recomenda ao governo uma rápida reforma da lei sobre a blasfêmia. Conforme relatado no relatório, o presidente do distrito local da PML-N, Abdul Qadeer Alan, é o acusador que registrou a queixa à polícia por blasfêmia contra os três cristãos Mukhtar Masih, Talib Masih e Imran Masih, acusados de profanar o Alcorão: é o caso que deu o pretexto para o massacre. De acordo com o relatório, os serviços de Inteligência (ISI) sabiam que grupos extremistas como "Sipah-e-Sahaba" estavam organizando o ataque, mas as autoridades civis e a polícia não fizeram nada para impedi-los. "O massacre poderia ter sido evitado se o governo local do PML-N tivesse tido vontade de intervir", disse Mehboob Khan, chefe de uma equipe de investigação da ONG "Human Rigths Comission of Paquistan". Em 30 de julho de 2009, os membros do "Sipah-e-Sahaba" organizaram uma multidão que incendiou toda a aldeia de Korian, sempre sob a acusação de blasfêmia. E no dia do massacre, em 31 de julho, os pregadores de três mesquitas locais utilizaram seus sermões de sexta-feira para pedir que a comunidade cristã de Gojra - cerca de 40 mil pessoas – fosse expulsa. Reuniram-se em seguida - diz o texto - os estudantes radicais da cidade vizinha de Jhang, líderes e membros da PML-N, pregadores do grupo "Sipah-e-Sahaba". A multidão de cerca de 7 mil pessoas se dirigiu em direção ao bairro cristão e começaram o saque. Os cristãos não tiveram como escapar. O Bispo John Samuel, da "Church of Pakistan", chefe da comunidade cristã anglicana de Gojra, observa: "Tendo em conta que já tinha se verificado um ataque, porque a polícia não agiu para evitar novas violências?" Poucos minutos antes do ataque, a polícia procurou somente avisar os fiéis, convidando-os a fugir, mas era tarde demais. Nenhum agente estava presente quando o ataque foi perpetrado. Outro capítulo é a impunidade: 17 pessoas acusadas de homicídio e 113 suspeitos de participarem do massacre foram libertadas depois de alguns meses, porque as testemunhas se recusaram a depor no tribunal. De acordo com Peter Jacob, Diretor Executivo da "Comissão Justiça e Paz" dos Bispos paquistaneses, "as testemunhas foram sistematicamente ameaçadas e silenciadas". Em 2010, a família do sobrevivente Hameed Masih, cristão que tinha apresentado uma queixa por homicídio, tendo visto morrer seus familiares, deixou o Paquistão por causa das ameaças de morte sofridas. Os acusados foram absolvidos e liberados. Além disso, Ahmed Raza Tahir e Muhammad Inkasar Khan, dois comandantes da polícia responsáveis pela gestão da segurança em Gojra, foram até mesmo promovidos. E o líder do PML-N, Abdul Qadeer Awan, dentre aqueles que guiaram a multidão no ataque, foi eleito na Assembleia Provincial do Punjab nas recentes eleições. Nos anos seguintes, o governo do Punjab reconstruiu centenas de casas queimadas em Gojra. Mas 50 famílias optaram por deixar o Paquistão. (PA) (Agência Fides 1/6/2013)


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