ÁSIA/BANGLADESH - Islã, religião de Estado e laicidade: as contradições e a ‘marcha á ré’ do governo

Quarta, 22 Junho 2011

Dacca (Agência Fides) – O governo de Bangladesh deu uma verdadeira ‘ marcha à ré’ sobre o tema da laicidade do Estado, como informam à Fides ativistas cristãos para direitos humanos que trabalham na área. A comissão parlamentar especial, encarregada pelo governo do Primeiro Ministro Sheikh Hasina de controlar as emendas à Constituição, recomendou que o islã seja mantido como religião de Estado, que o preâmbulo religioso permaneça na Carta Constitucional (“em nome de Alá, clemente e misericordioso”) e que seja permitida a presença de partidos religiosos no contexto da Constituição. Segundo as minorias cristãs, hindus e budistas, esta mudança de rumo deve-se a pressões de grupos fundamentalistas islâmicos. De fato, o governo havia anunciado em seu programa a intenção de restabelecer a lacicidade do Estado e querer combater o extremismo religioso também na política.
A medida gerou polêmicas e desapontamento na sociedade civil. Um ativista católico de Dacca declara à Fides: “O texto proposto para a modificação da Constituição declara textualmente que o islã é religião de Estado na República, que assegura iguais direitos às outras religiões”: é uma clara contradição e cria confusão. Entretanto, como cristãos (0,03% dos 160 milhões de habitantes, em grande maioria muçulmanos), estamos vivendo diversos problemas com este governo da Awami League que se diz leigo”. “As minorias religiosas, intelectuais e ativistas da sociedade civil – prossegue – pedem hoje o retorno à Constituição de 1972, que tinha um modelo leigo. O governo, que inicialmente se disse disponível, hoje teme reações dos islâmicos radicais e deu um passo atrás”. Também o governo de Hasina – frisa - “está fazendo um uso instrumental do islã para obter legitimidade e consenso político”.
Bangladesh foi declarado Estado leigo em 1972, mas uma série de emendas constitucionais nos anos sucessivos e duas ditaduras militares abandonaram o princípio, até o ponto de declarar o islã religião de Estado em 1988. Desde que assumiu o poder, dois anos atrás, Sheikh Hasina anunciou publicamente uma agenda para restaurar a laicidade do Estado e re-introduzir os “quatro princípios originais” básicos na nação: democracia, nacionalismo, laicidade e socialismo. (PA) (Agência Fides 22/6/2011)


Compartilhar: