VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello - “O diálogo ecumênico e a liberdade religiosa”

Sexta, 26 Maio 2006

Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “O diálogo ecumênico e a liberdade religiosa” - Nos últimos dias, a Santa Sé exortou os Estados sobre a urgência do respeito à liberdade religiosa, “fundamento - como dizia João Paulo II - de todo tipo de liberdade”. Isso, porém, não se refere apenas aos estados ‘islâmicos’, mas, infelizmente, também a alguns estados de maioria cristã-ortodoxa. Em um artigo desta semana, na Família Cristã, o Arcebispo latino de Atenas, Nikolaos Foscolos, diz: “Não acredito que a melhoria das relações gerais com a ortodoxia melhore a situação dos católicos na Grécia”. Em seguida, cita um elenco de fatos, como: os católicos gregos são considerados estrangeiros em seu país; para construir uma igreja é necessária a autorização do metropolita ortodoxo do local; os católicos que se casam devem subscrever um ato no cartório, no qual asseguram o batismo dos filhos na ortodoxia. Tudo isso, enquanto na Itália e na Europa, são concedidas igrejas aos ortodoxos para o culto e a atividade missionária. Entrando em uma delas, por exemplo na região da Calábria, lê-se um cartaz com os dizeres: “esta é a verdadeira Igreja de Cristo”, e uma dissertação sobre as diferenças existentes, em detrimento da imagem da Igreja católica.
Todos conhecemos as objeções e reivindicações dos ortodoxos, seja em relação ao chamado “proselitismo”, ou seja, a presença de circunscrições católicas em territórios atualmente de maioria “Ortodoxa”, como relativas ao chamado “uniatismo”, isto é, a presença na comunhão da Igreja Católica das Igrejas Orientais Católicas.
Estas objeções já foram objeto de estudo em várias sedes, como as de Adriano Garuti e David Jaeger. Ao que parece, é preciso, sempre na perspectiva da Verdade, dedicar atenção especial à questão que se pode definir, neste contexto, levemente “preconceituosa”, ou seja, o direito humano à liberdade de consciência e de religião, que, como ensina o Concílio Vaticano II, está radicado não apenas no direito divino natural, mas também na Verdade revelada. De fato, sabe-se que, a pedido das Comunidades eclesiais separadas do Ocidente, este ensinamento teria sido visto como intimamente relacionado ao ecumenismo. De fato, para que o diálogo na Verdade seja crível, é preciso que as partes reconheçam antes de tudo a liberdade de toda obrigação meramente humana da consciência do homem na busca da Verdade. Não é compatível com este reconhecimento uma imposição que vê os homens com súditos, obrigados a pertencer a uma determinada confissão em razão do território, da origem, da nacionalidade ou da cultura. Da mesma forma, não é admissível uma concepção, mesmo que implícita, de relações entre as Igrejas considerando a divisão de territórios e de povos, pretendendo que as pessoas sejam quase “propriedades” de uma ou outra organização eclesiástica. Até quem não compartilha a escolha de tantos ramos cristãos de ritos e culturas “orientais” de aderir à plena comunhão com a Igreja de Roma, não deve deixar de reconhecer a plena legitimidade de tal adesão, e de sua aceitação, na ótica da liberdade religiosa; assim, não pode pretender que a Igreja Católica não esteja presente e atuante em todos os lugares, nesta mesma ótica.
É verdade que as Igrejas Ortodoxas não obtiveram benefícios dos progressos doutrinais e teológicos do Concílio Vaticano II, e portanto, carecem ainda de específicos pontos em seu ensinamento. Exatamente por isso, seria oportuno, ou até mesmo, necessário, que a retomada, profunda, do diálogo propriamente teológico, privilegia, entes de tudo, estas premissas, que podem permitir sair do beco aparentemente sem saída das ásperas discussões sobre o “uniatismo” e o “proselitismo”. Elas podem ser gentilmente convidadas a examinar, na mesma perspectiva, os seus próprios comportamentos, como a criação de numerosas circunscrições e outras formas de presença pastoral no “Ocidente”, com a relativa inscrição de “Ocidentais” e a boa acolhida que estas formas de presença encontraram na sociedade e na própria Igreja Católica. Quanto ao observado acerca do diálogo ecumênico, especialmente com a Ortodoxia, vale também para o diálogo inter-religioso (mesmo sem a possibilidade de associar o argumento diretamente à Verdade revelada). Nesse contexto, parece ainda mais evidente a necessidade de privilegiar, de ter como objeto primário e prioritário do diálogo, os direitos humanos e, principalmente, o direito mais fundamental de todos, o da libertação em relação a toda repressão meramente humana em matéria de consciência e religião. Isso andaria bem, particularmente, mesmo que certamente não só, para o diálogo com os muçulmanos, mas também com os judeus de Israel. Nos países de maioria “islâmica” é ainda, com freqüência, negada a legitimidade da presença e do testemunho, dentro da comunidade nacional, dos que crêem em Cristo. Do mesmo modo, em Israel, não foi ainda compreendido o suficiente por todos que se pode ser ao mesmo tempo um membro leal da Nação e um fiel de Cristo Jesus. Não por acaso, de fato, nos tratados históricos com Israel (1993) e com a Palestina (2000) a Santa Sé quis colocar em primeiro lugar a obrigação de observar a liberdade de religião e de consciência. É verdade que estes são tratados “políticos”, com característica de acordo, e não documentos específicos de diálogo inter-religioso, mas mesmo na época não havia quem não vislumbrasse o seu profundo significado também para as relações mais propriamente inter-religosas. (Agência Fides 26/5/2006)


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