VATICANO - A Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma sobre o tema do desenvolvimento: “À vista dos tremendos desafios da pobreza de grande parte da humanidade, a indiferença e a encerramento no próprio egoísmo apresentam-se em contraste intolerável com o «olhar» de Cristo”

Quarta, 1 Fevereiro 2006

Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Jesus, ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão por elas”: este versículo do Evangelho de Mateus (9, 36) é o tema da primeira Mensagem do Santo Padre Bento XVI para Quaresma, dedicada ao tema do desenvolvimento. Publicamos a seguir alguns trechos da Mensagem.
“A Quaresma é o tempo privilegiado da peregrinação interior até Àquele que é a fonte da misericórdia. Nesta peregrinação, Ele próprio nos acompanha através do deserto da nossa pobreza, amparando-nos no caminho que leva à alegria intensa da Páscoa. Mesmo naqueles «vales tenebrosos» de que fala o Salmista (Sl 23, 4), enquanto o tentador sugere que nos abandonemos ao desespero ou deponhamos uma esperança ilusória na obra das nossas mãos, Deus guarda-nos e ampara-nos. Sim, o Senhor ouve ainda hoje o grito das multidões famintas de alegria, de paz, de amor. Hoje, como aliás em todos os períodos, elas sentem-se abandonadas. E todavia, mesmo na desolação da miséria, da solidão, da violência e da fome que atinge indistintamente idosos, adultos e crianças, Deus não permite que as trevas do horror prevaleçam”. …
“A Igreja sabe que, para promover um desenvolvimento integral, é necessário que o nosso «olhar» sobre o homem seja idêntico ao de Cristo. De facto, não é possível de modo algum separar a resposta às necessidades materiais e sociais dos homens da satisfação das necessidades profundas do seu coração. Isto deve ser ressaltado muito mais numa época como a nossa, de grandes transformações, em que nos damos conta de forma cada vez mais viva e urgente da nossa responsabilidade em relação aos pobres do mundo”….
“A primeira contribuição que a Igreja oferece para o desenvolvimento do homem e dos povos não se consubstancia em meios materiais nem em soluções técnicas, mas no anúncio da verdade de Cristo que educa as consciências e ensina a autêntica dignidade da pessoa e do trabalho, promovendo a formação duma cultura que corresponda verdadeiramente a todas as exigências do homem. À vista dos tremendos desafios da pobreza de grande parte da humanidade, a indiferença e a encerramento no próprio egoísmo apresentam-se em contraste intolerável com o «olhar» de Cristo. O jejum e a esmola, juntamente com a oração, que a Igreja propõe de modo especial no período da Quaresma, são uma ocasião propícia para nos conformarmos àquele «olhar». Os exemplos dos Santos e as múltiplas experiências missionárias que caracterizam a história da Igreja constituem indicações preciosas quanto ao melhor modo de apoiar o desenvolvimento. Mesmo neste tempo da interdependência global, pode-se verificar como nenhum projecto económico, social ou político substitua aquele dom de si mesmo ao outro que brota da caridade.”
“Graças a homens e mulheres obedientes ao Espírito Santo, surgiram na Igreja muitas obras de caridade, visando promover o desenvolvimento: hospitais, universidades, escolas de formação profissional, micro-empresas. São iniciativas que, muito antes de outras fórmulas da sociedade civil, deram provas de sincera preocupação pelo homem por parte de pessoas animadas pela mensagem evangélica. Estas obras apontam uma estrada por onde guiar também o mundo de hoje para uma globalização que tenha, ao centro, o verdadeiro bem do homem e conduza assim à paz autêntica. Com a mesma compaixão que tinha Jesus pelas multidões, a Igreja sente hoje também como sua missão pedir, a quem tem responsabilidades políticas e competências no poder económico e financeiro, que promova um desenvolvimento baseado no respeito da dignidade de todo o homem. Um indicador importante deste esforço há-de ser a liberdade religiosa efectiva, entendida como possibilidade não simplesmente de anunciar e celebrar Cristo, mas de contribuir também para a edificação de um mundo animado pela caridade.”…
“É precisamente a esta salvação integral que a Quaresma nos quer guiar, tendo em vista a vitória de Cristo sobre todo o mal que oprime o homem. Quando nos voltarmos para o Mestre divino, nos convertermos a Ele, experimentarmos a sua misericórdia através do sacramento da Reconciliação, descobriremos um «olhar» que nos perscruta profundamente e que pode reanimar as multidões e cada um de nós.” (S.L.) (Agência Fides 1/2/2006)


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