ÁFRICA/SUDÃO DO SUL - "As hienas estão de volta": o testemunho dado à Fides por uma religiosa de Malakal, destruída pela guerra

Quarta, 17 Setembro 2014

Juba (Agência Fides) – "Estamos na instabilidade e uma grande parte da população vive em condições extremamente precárias", disse a irmã Elena Balatti, contatada pela Agência em Malakal, capital do Estado petrolífero do Alto Nilo, que esteve no centro de combates entre as tropas governamentais do Sudão do Sul e os rebeldes fiéis ao ex vice-presidente Riek Machar (veja Fides 3/3/2014). A cidade que antes da Guerra Civil, tinha 250 mil habitantes continua sendo um objetivo militar, lembra a missionária comboniana. Apesar dos acordos de cessar-fogo, a situação continua muito tensa no país, e nestas condições, até mesmo os meios de comunicação são afetados, como evidenciado por um fato ocorrido na rádio diocesana em Juba (veja Fides 18/8/2014).
Irmã Elena conta isso no último episódio bélico ocorrido perto da cidade: "Em 21 de agosto, às 8h30 da manhã, ouvimos o barulho de bombardeio do fronte que se encontra a 25 km. Como a maioria dos habitantes da cidade, também nós Combonianas deixamos a cidade em 10 minutos, esperando para ver o resultado da batalha. Já fizemos experiência da ferocidade das milícias da oposição. Malakal viu em poucos meses seis ataques".
Dentre outras coisas, quem pagou o preço foi também o rádio da diocese, "Sout al Mahaba" (Voz da Caridade), da qual irmã Elena é responsável. "A rádio – disse irmã Eelena - sofreu um primeiro saque em 18 de fevereiro, durante o terceiro ataque das forças da oposição. No início de agosto, consegui voltar a Malakal e verifiquei que o saque da emissora tinha sido concluído. Tudo começou com as forças da oposição e continuou depois de que, em 18 de maio, as forças do Governo tomaram conta da cidade. Até mesmo o muro foi roubado. Conseguimos recuperar o transmissor que está danificado. Esperamos poder consertá-lo. A torre das antenas de 72 metros está em condições precárias porque um dos cabos que a suportam foi cortado por um estilhaço. Tentamos consertá-lo para evitar que a torre caia. O pessoal que trabalha na rádio está espalhado, em parte, no campo da ONU, e a outra parte, nas aldeias vizinhas.
Irmã Elena conta com comoção os danos sofridos por aquela que já foi a segunda maior cidade do Sudão do Sul: "O sul de Malakal foi o mais danificado. Nessa área não existiam casas de alvenaria, mas somente cabanas. Agora que estamos na época das chuvas, a vegetação invadiu as cabanas destruídas a ponto de não mais distinguir os pontos de referência que existiam antes da destruição da área. Para entender a que ponto estamos basta dizer que as hienas estão de volta e várias pessoas afirmam ter visto uma leoa rondando com seus filhotes".
"As pessoas voltaram, mas permanecem prudentes. As mulheres abriram pequenos negócios para terem uma fonte de renda mínima. O pequeno comércio retomou. À noite, a cidade se esvazia, as pessoas atravessam o Nilo para ir aos povoados vizinhos, ou voltam para o campo de refugiados da ONU, que está localizado a 4 km de Malakal”, concluiu a religiosa. (L.M.) (Agência Fides 17/9/2014)


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