ÁSIA/MALÁSIA - Questão “Alá”: mais de 100 denúncias do reitor do semanal católico Herald

Quinta, 9 Janeiro 2014

Kuala Lumpur (Agência Fides) – Pe. Lawrence Andrew, sacerdote malaio e Diretor do jornal católico “Herald”, semanal diocesano de Kuala Lumpur, está sendo indagado pela justiça malaia e pode ser incriminado e processado por “sedição”. Como informado à Fides pela Igreja local, 109 denúncias foram registradas contra ele por ter afirmado em um artigo no número de 27 de dezembro da “Herald” que os católicos têm direito de continuar a utilizar a palavra “Alá” para se referir a Deus. No artigo, conferido pela Fides, pe. Andrew cita, como prova evidente, uma oração cristã de cem anos atrás, em malaio, na qual já se usava o nome “Alá”.
"A situação é muito grave. Há uma grande preocupação na Igreja Católica, porque a história não tomou um rumo pior", explica à Agência Fides Frei Augustine Julian, missionário dos Irmãos das Escolas Cristãs, em Kuala Lumpur, o ex-secretário da Conferência Episcopal da Malásia. "A investigação da magistratura em andamento é uma forma sutil de pressão contra todos os cristãos. Há uma forte preocupação na comunidade e tensão com grupos radicais islâmicos", acrescenta Julian. Os Bispos da Malásia, que estes dias estão reunidos em Johor, para uma reunião da Conferência Episcopal, "examinarão certamente o assunto delicado", observa Julian, embora seja provável que não haverá uma intervenção oficial. O que se teme é uma escalada que pode levar à violência.
A abertura de uma investigação sobre Pe. Andrew vem depois de mais um episódio crítico: o recente sequestro de mais de 300 Bíblias pela polícia no Estado de Selangor (veja Fides 3/1/2014). O Departamento de Assuntos Religiosos do Estado justificou o ato - que suscitou fortes polêmicas - porque as Bíblias, escritas na língua local "Bahasa", usam a palavra "Alá". Sobre o caso, a “Bible Society of Malaysia” (BSM), proprietária das Bíblias sequestradas, pediu ao Governo de Selangor para aprovar formalmente a" Declaração 10 pontos", emitida pelo Governo Federal da Malásia em 2011. A declaração permite à comunidade cristã de "imprimir, importar e distribuir a Bíblia em línguas indígenas malaias no país", colocando certas condições sobre a distribuição na Malásia peninsular. A BSM afirma ter respeitado essas condições e que as Bíblias foram reservadas para as igrejas de Sabah e Sarawak (Borneo malaio) e a alguns indígenas cristãos de língua malaia residentes na península. O primeiro-ministro do estado de Selangor, Abdul Khalid Ibrahim , ordenou ontem a polícia para devolver as Bíblias , de acordo com a Declaração.
O primeiro-ministro do Estado de Selangor, Abdul Khalid Ibrahim, ordenou ontem à Polícia de restituir as Bíblias, de acordo com a Declaração.
A controvérsia sobre o uso da palavra "Alá" por não muçulmanos eclodiu no início de 2009, quando o Ministério do Interior revogou a autorização de publicação do jornal católico "Herald", porque usava o termo. A Igreja Católica iniciou uma ação legal, alegando a violação de seus direitos constitucionais. Naquele mesmo ano, um tribunal confirmou a alegação da Igreja. A senteçã sucessiva do Tribunal de Recurso, em outubro de 2013, restabeleceu a proibição. Os muçulmanos constituem mais de 60% dos 28 milhões de malaios, enquanto os cristãos representam cerca de 9%. (PA) (Agência Fides 9/1/2014)


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