ÁFRICA/REPÚBLICA CENTRO AFRICANA - “É preciso sair da lógica do confronto religioso, estamos diante de atos criminosos”, diz o Bispo de Bossangoa

Quarta, 8 Janeiro 2014

Bangui (Agência Fides) – As comunidades cristãs e muçulmanas “são reféns da lógica criminosa” dos grupos que se estão enfrentando na República Centro-africana, afirma Dom Nestor Désiré Nongo Aziagbia, Bispo de Bossangoa, em mensagem aos fiéis por ocasião do Natal.
A respeito da recente história do país, o Bispo recorda que justamente um ano atrás, em dezembro de 2012, a rebelião Seleka começou seu ataque, que causou, em março de 2013, o afastamento do ex-Presidente Bozizé de Bangui.
“As mudanças prometidas por estes vendedores de ilusões trouxeram somente sofrimento ao povo centro-africano”, denuncia Dom Nongo Aziagbia. “Estupros, homicídios, sequestros com fins de resgate, furtos, incêndios de campos e moradias, atos de vandalismo contra estruturas administrativas, eliminação da memória histórica (com a destruição de arquivos municipais), saques de estruturas eclesiais, profanação de igrejas. O quadro é sinistro, a desolação domina. As tropas da Sekeka foram integradas por bandidos “que se auto-atribuíram graus militares que expõem com arrogância”.
Em reação às violências, a população se constituiu em milícias de autodefesa denominadas anti-balaka (“anti-machado”, em referência à arma usada pela Seleka para mutilar e matar suas vítimas), heranças de grupos já presentes desde a década de 90 para combater o banditismo.
Os combates entre Seleka e anti-balaka já se transformaram em uma lógica criminosa e quem paga o preço é a população. “É preciso absolutamente parar de assimilar os anti-balaka aos movimentos cristãos e os Seleka aos muçulmanos”, afirma Dom Nongo Aziagbia. “Com efeito, não todos os anti-balaka são cristãos e nem todos os cristãos são anti-balaka. E é a mesma coisa com os Seleka e os muçulmanos”.
A lógica da represália obrigou centenas de milhares de civis à fuga. Em Bossangoa, escreve o Bispo, “a cidade está reduzida a duas áreas: o Episcopado, onde cerca de 50 mil pessoas estão amontoadas, e a escola Liberté, onde estão refugiados mais de 8 mil desabrigados da comunidade muçulmana. Em Bouca, cerca de 3.500 pessoas são acolhidas na missão local”. (L.M.) (Agência Fides 8/1/2014)


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