VATICANO-“NA CONSTRUÇÃO DA NOVA EUROPA NÃO ESQUEÇAMOS OS CIGANOS”, DISSE À AGÊNCIA FIDES DOM MARCHETTO, SECRETÁRIO DO PONTIFÍCIO CONSELHO DA PASTORAL PARA OS IMIGRANTES E OS ITINERANTES

Quinta, 3 Julho 2003

Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Por ocasião do Vº Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos com o tema: “Igreja e Ciganos: por uma espiritualidade de comunhão”, em curso na Hungria desde o dia 30 de Junho até o dia 7 de Julho, organizado pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Imigrantes e Itinerantes, em colaboração com a Conferência Episcopal da Hungria, a Agência Fides dirigiu algumas perguntas a Dom Agostino Marchetto, Secretário do Pontifício Conselho da Pastoral para os Imigrantes e os Itinerantes.

O Congresso de Budapeste se insere em uma série de iniciativas em favor dos ciganos. Poderia nos descrever algumas?
Nos últimos tempos, ocorreram várias iniciativas para os ciganos a nível eclesial e civil. O Conselho da Europa por exemplo, iniciou uma reflexão sobre o respeito dos direitos humanos dos ciganos: em Março, em Roma, houve um encontro de especialistas dos direitos humanos na qual a Igreja católica foi convidada a participar.
No mundo, os ciganos são em número de 18 milhões, com grande presença no México, Brasil, Estados Unidos e na Europa Oriental, com um movimento em direção a União Européia, graças às novas oportunidades oferecidas por aquela que será a UE alargada. Na construção da nova Europa, não podemos esquecer que os ciganos fazem parte da história européia desde os inícios do XV século. As crônicas da época, de fato, falam de ciganos que viviam na corte do Rei da Hungria.
No mesmo tempo, é preciso ter em conta que existem também 18 milhões de ciganos que vivem na Índia, donde provém este povo.

Quais são os temas do Congresso?
Pelo tema do Congresso, “Igreja e Ciganos: por uma espiritualidade de comunhão”, somos devedores em relação a Carta Apostólica do Santo Padre, Novo millennio Ineunte, onde se afirma a necessidade de promover uma espiritualidade de comunhão. Isto significa saber compartilhar as alegrias e os sofrimentos do outro, ocupar-se com as suas necessidades e oferecer-lhe uma verdadeira amizade. Queremos debater sobre as condições destes nossos irmãos, em primeiro lugar sob o ponto de vista espiritual, mas queremos também verificar como a fé se encarna em suas realidades concretas de vida. Por isso, convidamos sacerdotes e religiosas de origem cigana: são vinte e isto demonstra como os ciganos podem tornar-se apóstolos do próprio povo.

E sobre a relação dos ciganos com a fé?
Uma das dificuldades que deveremos enfrentar deriva do fato que os ciganos manifestam a tendência de ser condicionados em sua fé pelo lugar em que vivem: se estão em um país ortodoxo, são ortodoxos; se vivem em um país católico, são católicos; se estão em um país muçulmano, são muçulmanos e assim por diante. É claro portanto, que respeitando a consciência de todos, deve haver um chamado à coerência ao Evangelho. Isto não significa alienar-se de sua cultura, de seu senso de peregrinação. Temos toda uma história de dores nas relações com este povo. Existe portanto o desejo de reparar as injustiças que sofreram, tendo em conta os elementos culturais destes nossos irmãos, que como em todas as culturas, possuem os seus problemas.

Por que a Hungria foi escolhida como sede do Congresso?
É a primeira vez que vamos para fora do Vaticano para a conferência mundial sobre os ciganos, e escolhemos a Hungria, onde vivem milhões de ciganos como sinal concreto do interesse da Igreja em relação a esta realidade.

O que a Europa pode fazer para integrar os ciganos respeitando a sua cultura?
A questão da integração, que é um problema para todos os imigrantes, torna-se uma questão radical no caso dos ciganos. O estilo de vida da Europa moderna tende a rejeitar quem é nômade. Nos últimos tempos, se assiste porém a um processo de sedentarismo dos ciganos, de início um pouco forçada. Mas eles próprios estão percebendo que se quiserem garantir um futuro para os seus filhos, devem mandá-los à escola, e isto significa fixar-se em um lugar.
O importante é respeitar a sua cultura não tanto materialmente, mas no sentido da concepção da vida como um contínuo peregrinar, como busca. Neste sentido a integração não deve ser uma absorção, mas interação entre culturas diferentes, em que cada qual conserva as próprias características.


Participam do Vº Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos cerca de 150 pessoas, representantes de 25 Conferências Episcopais no seio das quais existem estruturas dirigidos à pastoral com os Ciganos. Entre os participantes, figuram bispos, diretores nacionais, sacerdotes, religiosos e leigos.
(L.M) (Agência Fides 3/7/2003 – linhas: 69 ; palavras: 784)


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