ÁFRICA/MOÇAMBIQUE - Dos cerca de 14.000 casos de novas infecções por dia em 2003, 12.000 eram pessoas entre 15 e 45 anos de idade. O programa DREAM e o tratamento de crianças com Aids na África, da Comunidade de Santo Egídio.

Sábado, 3 Abril 2004

Roma (Agência Fides) - O programa DREAM, realizado pela Comunidade de Santo Egídio, se ocupa das crianças em muitas modalidades. Certamente a mais importante refere-se à terapia de mulheres grávidas, com dois objetivos: a sobrevivência das mães e a prevenção da transmissão vertical. O programa assistiu mais de 400 crianças nascidas saudáveis, de mães soropositivas. O índice de transmissão foi reduzido de 35-40% teórico, para 3,5%. Este importante resultado foi obtido graças à administração, nas mães, da triterapia prevista nos países ocidentais, ao invés da monoterapia, freqüentemente utilizada.
Ao lado deste trabalho de prevenção, é preciso relevar que boa parte de nossos pacientes atuais são crianças com Aids ou soropositivas. O problema é enorme, e até o momento, poucos se interessaram. As crianças sem terapia antiretroviral têm altíssimas probabilidades de morrer nos primeiros anos de vida, ou dificilmente sobrevivem ao 15° ano. Mais de 200 pequenos pacientes estão sendo tratados no programa DREAM. Verificamos neles também os mesmos benefícios observados nos adultos: não somente uma redução da mortalidade, mas também a recuperação da saúde, da qualidade de vida e do processo de desenvolvimento e crescimento.
Esta primeira experiência leva a crer que o projeto DREAM representa um modelo de sucesso e que sua aplicação em nível de sistemas sanitários não é impossível. E este é exatamente o desafio que enfrentaremos nos próximos anos. A UNAIDS estimava, para 2003, um total de 40 milhões de pessoas infectadas pelo Hiv no mundo, dentre as quais pelo menos 26 milhões na África. O andamento da epidemia não foi detido neste continente, enquanto se comprovou uma difusão sempre mais acelerada nos países do Leste europeu, no Subcontinente indiano e na China. O que preocupa não é somente o número de vítimas - que permanece um fenômeno de dimensões imponentes e dramáticas, se imaginarmos as mortes já ocorridas e as estimativas de que as possíveis alcançarão cifras próximas às da II Guerra Mundial.
A Aids, de fato, foi definida como uma “crise do progresso”, por causa do profundo impacto econômico, demográfico e social que acompanha a expansão da epidemia. O vírus produziu uma inversão da tendência natural de aumento da expectativa de vida, em grande parte dos países da África Subsaariana. Como sabemos, a Aids atinge principalmente jovens adultos em idade fértil: dos cerca de 14 mil casos de novas infecções registradas a cada dia em 2003, 12 mil são de pessoas entre 15 e 45 anos de idade. Isso gera fatalmente um agravamento de todas as formas de pobreza e efeitos negativos em todos os setores do desenvolvimento. Por exemplo, Moçambique perde anualmente 400 professores das escolas de ensino fundamental. Estima-se que a falta de professores reduzirá a relação professor/aluno a um nível de 1/80, em 2010. Alguns observadores acreditam que a Aids tenha desempenhado um papel decisivo - embora não exclusivo - em graves penúrias nos últimos anos, como por exemplo, em Malauí.
Este país perdeu, na última década, boa parte de sua força de trabalho - principalmente destinada à agricultura - e se situa em primeiro lugar na África por proporção de crianças órfãs de AIDS. Cinco por cento da população total é constituída por órfãos e famílias formadas por avós e netos, totalmente incapazes de uma independência econômica: a ferida social mais evidente deixada pela doença. Um interessante - e preocupante - relatório do Banco Mundial, de julho de 2003, prevê que a Aids causará um colapso econômico de países como a África do Sul, em algumas gerações, com uma queda vertical do PIL próxima a 50%.
DREAM, realizado em Moçambique e que acaba de ser lançado em Malauí, Tanzânia, África do Sul, Suazilândia e Guiné-Conacri, representa uma resposta de caráter global ao problema. No biênio 2002-2003, o modelo foi aplicado integralmente e hoje, há mais de 4000 soropositivos sendo assistidos e 1400 pessoas recebendo terapia antiretroviral completa. O processo de scaling up faz prever índices duas vezes maiores em cada seis meses. O projeto DREAM tem alguns aspectos peculiares: a total e completa gratuidade dos tratamentos e do diagnóstico, padrões qualitativos totalmente análogos aos dos países ocidentais, estratégia nutricional e de controle e tratamento de outras patologias, como malária, tuberculose e doenças de contágio sexual; as tecnologias empregadas, a gestão completamente informatizada dos centros, a participação dos doentes nas atividades de sustento de novos soropositivos e a completa atividade de educação sanitária. (AP) (3/4/2004 Agência Fides)


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