EUROPA/ITÁLIA - “Não podemos brincar com a vida: a ciência tem tempos que devem ser respeitados”: é o que diz a Agência Fides a Dra. Campisi, relatora do Congresso sobre “As células-tronco, entre ciência e consciência”.

Roma (Agência Fides) - Entre os relatores do Congresso: “Células-tronco entre ciência e consciência”, que se realizará em Roma, nós contatamos a Dra. Silvana Campisi, responsável pela Unidade Operacional das Células-tronco do Hospital Santo André, de Roma.
“A minha vida profissional sempre esteve ligada às células-tronco. Enquanto alguns anos atrás, o assunto era reservado a cientistas, e eu fazia pesquisa de base sobre estas células, hoje, há uma novidade importante: deixamos o laboratório e entramos em estruturas hospitalares, ou seja, no campo das aplicações terapêuticas. Hoje, o argumento células-tronco é muito difundido, mesmo que haja pouco conhecimento. O objetivo desse congresso será exatamente avaliar em que estágio estamos e construir uma consciência para enfrentar o argumento.
Não se pode pensar em fazer exclusivamente ciência com as células-tronco. Inevitavelmente, entramos no campo da bioética. Cada um de nós, que trabalha nessa área de pesquisa, se deve confrontar primeiramente com a própria consciência, depois com a consciência coletiva e com o próprio credo pessoal, que é determinante em nossas decisões. Eu mesma senti a exigência de freqüentar estudos de bioética.
Enquanto antes, as células-tronco estavam fechadas no laboratório e não interessavam a ninguém, pareciam uma coisa estranha, pequenos animais e basta. A um certo ponto, começaram a despertar o interesse das pessoas. Seja o fator econômico, como a qualidade da difusão de informações, causaram muita confusão entre clonagem, células-tronco, embriões. Deve ficar claro que uma coisa é a clonagem, mesmo que terapêutica, e outra são as células-tronco. São duas coisas combinadas, mas não a mesma. Mas então o que são as células-tronco? São células que se auto-reproduzem, e que se podem diferenciar em outras células.
É preciso antes de tudo esclarecer que as fontes das células-tronco não são só o embrião, mas também a medula óssea, o sangue periférico, o cordão umbilical, os tecidos (células-tronco adultas). Destas fontes, podem-se distinguir as células toti-potentes e pluri-potentes. As primeiras se encontram nos primeiros dias de vida do embrião, e nesse caso, podem dar vida diretamente a outro ser humano.
É necessário fazer uma distinção sobre o uso que queremos fazer das células-tronco. Não podemos brincar com a vida, não podemos fazer experiências com indivíduos “in vitro”. Para fins terapêuticos, podemos encontrar em nosso organismo células tão válidas como as embrionais.
A minha intenção nesse Congresso é afirmar que de um ponto de vista terapêutico, podemos usar células-adultas, que podem ser igualmente ativadas, processadas, e manipuladas para tornarem-se um tecido, a ser implantado no organismo. Por exemplo, a córnea é uma sede rica de células-tronco adultas. Elas podem ser purificadas, colocadas em cultura com determinados fatores de crescimento, e reproduzir uma nova córnea, reimplantada no olho da pessoa que doou suas próprias células, sem o risco de rejeição.
Outra grande riqueza são as células do cordão umbilical, que normalmente são descartadas. Estas células apresentam características extraordinárias, porque são inseridas no organismo materno e não sofrem rejeição, e se instalam com mais facilidade em outros indivíduos do que outras células, mais maduras. Infelizmente, o processo de coleta destas células foi abandonado, porque nas salas de parto há carência de enfermeiros e não há tempo para a sua retirada.
No campo das células-tronco, as novidades não se dão de um dia para o outro. As novidades não são tão simples; é verdade que a ciência caminha, mas não por isso devemos forçar as notícias. A ciência tem tempos que devem ser respeitados. Se levarmos a ciência e percorrer caminhos ligados ao impacto da notícia ou aos interesses econômicos, criaremos verdadeiros monstros. (AP) (5/3/2004 Agência Fides)